sábado, 4 de julho de 2009

No Trem


As portas se abriram, e em meio a uma grande quantidade de pessoas ele pode entrar, mas não haviam mais lugares para sentar. Segurou-se firme e sentiu o trem começar a se deslocar. A viagem não era longa. Vinte ou trinta minutos apenas e ele não tinha pressa. Não demorou muito até que o trem parasse na próxima estação. As portas se abriram e como num reflexo natural desse tipo de situação ele levantou a cabeça olhando para a porta. Alguns desceram, outros subiram silenciosamente, posicionando-se onde restava espaço. Curiosamente, bem a sua frente parou em pé, equilibrando-se apenas em suas próprias pernas o que mais tarde ele chamaria de visão, anjo, luz do dia. Pegou um livro que estava na sacola que carregava e começou a ler como se estivesse em um lugar qualquer, sem se importar com os solavancos do trem ou com as pessoas ao redor, enquanto ele observava atento a cada movimento, sem conseguir sequer piscar.
Sentia o coração disparado, as pernas bambas, as mãos suando. Seria isso que chamavam de “Amor à Primeira Vista”? A viagem não seria longa e ele sabia que se quisesse ao menos tentar alguma coisa deveria ser rápido. Continuava a olhar incansavelmente, mas não recebia nenhum sinal em resposta. Por vezes, sentia-se envergonhado ao ver que outras pessoas percebiam sua quase obsessão momentânea, disfarçava e voltava a observar tão fascinante criatura. Mesmo de longe podia sentir o cheiro. Não era perfume, não era desodorante ou sabonete, era apenas o cheiro da pele, o cheiro do suor de um dia quente de verão, que tanto lhe agradou que até lhe fez sentir certo desejo. Precisava conter-se. Pensar rápido. Tentou aproximar-se. Queria tocar aquele corpo, beijar aquela boca, sentir tudo que já estava sentindo de forma mais intensa. Recebeu como resposta apenas um passo ao lado.
Por vezes, o trem parava, outras pessoas desciam, mais pessoas entravam e ele se mantinha no mesmo lugar evitando perder de vista o ser que lhe causava tamanho nervosismo. Não sabia o que fazer... Deveria tentar conversar, tocar, beijar, pedir telefone? Seus pensamentos corriam mais rápido que o trem e ele começava a se deseperar. Não recebia um olhar, um sorriso, nem uma chance de aproximação e logo teria que descer. Ou pior: talvez seu “objeto de desejo” descesse antes deixando-o ali com cara de bobo extasiado. Passou a mão pelos cabelos, respirou fundo e decidiu que tentaria conversar, mas tão logo deu um passo a frente o trem parou e em meio a uma multidão apressada foi embora seu alvo. Pela porta ainda podia ver. O livro voltando à sacola. Os cabelos ao vento. O corpo de costas para o trem. Seu anjo virando-se como se percebesse que alguém lhe observava e parando com os olhos fixos no chão bem a frente dele que já quase chorava de agonia. As portas começaram a se fechar. Sentiu o gelo no peito. Viu os olhos mareados transformando-se em lágrimas pelo rosto. Viu as portas serrarem-se. Viu um rosto se erguendo. Viu um olhar penetrar seus olhos. Viu um simples sorriso que lhe secou as lágrimas e lhe encheu de esperanças, distanciando-se enquanto o trem voltava à sua marcha.

Um comentário:

Insignificante disse...

Eu teria acahdo mais legal se a pessoa tivesse ido embora e ele ficasse no trem sentindo sua frustração torturadora. Oportunidade perdida. Sequer tentada. Vida não vivida. Típico dos covardes e inertes.