Unia os pedaços, arrastava-se com o que sobrou de teu corpo, me perseguia. Tomada de pavor, fugi, mas não podia me esconder. Estavas em todo canto e para onde quer que eu olhasse, lá estavas tu atormentando-me. Por mais que tivesse te destruído, por mais que quisesse te odiar, não me livraria, não me libertaria do sofrimento de te encontrar em todo lugar, em cada gesto, em cada olhar. O sofrimento de não ser capaz de te matar dentro de mim.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
O Sonho
Unia os pedaços, arrastava-se com o que sobrou de teu corpo, me perseguia. Tomada de pavor, fugi, mas não podia me esconder. Estavas em todo canto e para onde quer que eu olhasse, lá estavas tu atormentando-me. Por mais que tivesse te destruído, por mais que quisesse te odiar, não me livraria, não me libertaria do sofrimento de te encontrar em todo lugar, em cada gesto, em cada olhar. O sofrimento de não ser capaz de te matar dentro de mim.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Bacante
És vampira, bacante da escuridão.
Rasga minha carne, abre meu peito, arranca meu coração.
Beba de meu fluído, sinta em meu sangue a dor lancinante,
Por tantas vezes errante,
Que joga minha alma no fogo infernal da perdição.
Em teu beijo, no teu corpo há algo de estranho, abstrato.
És martírio, delírio previsto nas cartas de um tarot barato.
Há algo de obscuro, escuso naquilo que tomas de mim.
Em teus olhos de mil cores vejo a crueldade
De um ardor que não tem fim.
Desfaça tuas vestes,
Jogue em mim teu nevoeiro, tuas pestes,
Que eu engulo teus medos, receios e rancores.
Oh, Bacante! Ser do dia errante.
Dai-me teu corpo, seja minha amante.
Tome de mim o sangue, a alma.
Tome de mim a vida que me resta.
Que dar-te-ei um amor de vida eterna.
Desatino de Dezembro
Explode nos poros o veneno fermentado
Teus lábios se abrem em um beijo
Sedento, ávido, apressado.
Num quarto vermelho, escuro
Retirei tua espada
Ultrapassei teu escudo.
São nossas bocas que se beijam
Perdidas entre “sins e nãos”
Que por mais e mais anseiam.
Um corpo que busca o outro
Confuso, perdido
As vezes parado, quase morto.
A pele lisa, pêlos, peito
Esse é nosso lugar
Pequeno, apertado, estreito.
Quarto incandescente, aroma suave
Levemente doce, levemente amargo
Queria eu ter podido adormecer em tua nave.
Sons alheios a nós, ignoro
Teu nervosismo, perdição
Que não te vás eu imploro.
Hora, minuto, segundo...
Quanto tempo passou não sei dizer
Mas em mim, girou um mundo.
Tento ler-te mas teus olhos nada revelam
O que sentes, será que sentes?
Que segredos teus pensamentos carregam.
Tua cor, teu brilho, uma vida irradiam
Agora entendo porque por tanto tempo
Em ti, meus olhos se detiam.
Saiba que de ti quero mais que uma noite
Quero o vazio do amor,
Quero teu prazer e teu açoite.
Para ti nunca houve sentimento
Quebrei o cadeado da tua curiosidade
Fui um simples experimento.
Ainda assim, foi mágico
Cheio de sons, cheiros sabores
Embora o fim tenha sido quase trágico.
Mas do fim... ah, disso não me lembro
Todos os dias, tudo que recordo
É daquele dia de dezembro.
segunda-feira, 21 de março de 2011
Silenciosamente Não
Dormente, ausente.
E você o que sente?
Saudade do passado
Contado, sonhado,
Deveras desejado.
O gosto do beijo...
Almejo, desejo.
Mas apenas segue meu anseio...
Lamento o tormento
De culpa isento.
Será que sabes que morro por dentro?
Que nunca façam de ti
O que fazes de mim:
Espectro humano, sem vida, sem fim.
domingo, 27 de dezembro de 2009
Joana D'Ark
Ao se olhar no espelho, tudo que vê é tudo que deseja esconder. Seus medos, suas fraquezas, seus anseios, suas alegrias, tristezas... enfim, tudo se estampa em seus olhos negros.
E é por tudo isso que ela se arma. Não sai de seu castelo sem sua armadura. Não permite que lhe vejam sem seu capacete. Mesmo seus pés jamais poderão mostrar-se frente aos exércitos enfurecidos que aguardam sua chegada. São exércitos enormes, é quase impossível determinar com certeza quantos soldados neles há. Pior que numerosos, esses exércitos possuem armas poderosas, capazes de destruir um grande cavaleiro com apenas um suspiro.
Ainda assim, Joana se veste, se pinta, se arma e vai para o campo de batalha. Prefere a guerra à solidão. Pensa estar protegida em meio a tanto aço, quando na verdade apenas mente para si, iludindo-se com pensamentos positivos sobre aqueles que supostamente atacam-lhe em vão.
Joana é forte. Por vezes seu escudo rebate, repele ataques violentos facilmente. Porém, já ultrapassaram-lhe tal defesa. Sua poderosa armadura. Nas ocasiões em que isso ocorreu, as consequências foram catastróficas. Cegaram-lhe os olhos, ludibriaram-lhe pensamentos, para então perfurar seu coração sem demonstrar qualquer arrependimento ou remorso por fazê-lo sangrar. Lágrimas rolaram por seu rosto e ela chegou a acreditar que a morte estaria próxima.
Mas (graças aos Céus), nossa heroína é forte e por mais que sofra, que sinta-se abatida, não se entrega facilmente ao fim. E, assim, lá vai ela acordar em uma nova manhã, para vestir novamente tal armadura que deveria lhe defender.
Até que um dia, de alguma forma não explicada, roubaram-lhe o escudo e o elmo, fazendo com que acreditasse que não poderia combater nada nem ninguém por estar no auge de sua fragilidade. O medo, o temor e a insegurança eram mais claros em seu olhar e suas atitudes.
Foi então que um sábio biscoito da sorte japonês (sim, não era chinês), disse-lhe que de nada servia a armadura, o elmo ou o escudo. Joana poderia defender-se de tudo e de todos quando passasse a defender-se de si mesma. E aqueles soldados ao lado dos quais tantas batalhas vira, eram vazios e fúteis por jamais terem conseguido enxergar além do aço que cobria seu rosto, seu coração. Quem quisesse, poderia ferí-la de qualquer forma desde que ela permitisse. Do contrário nada a atingiria. Seria como a luz refletindo no espelho.
Joana ouviu atenta ao que disse o biscoito e por mais difícil que fosse aceitar, era ele que tinha razão. Percebeu que suas qualidades e defeitos eram notados, não importava o que fizesse para escondê-los, pois quem quisesse conhecer-lhe de verdade buscaria a real Joana dentro de seus olhos, em sua alma. Quem de fato lhe amasse, buscaria uma realidade e não apenas uma aparência forte, quase rústica. Bastava que Joana D'Ark fosse apenas ela, nem só Joana, nem só D'Ark, mas aquela que lhe aproximasse de quem realmente quisesse lhe fazer feliz.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
O amor de forma breve
O amor não se compra. Amor não se vende, não se cria. O amor simplesmente é. É sentimento, entrega, fidelidade, dedicação, carinho, confiança. E, se por acaso, algum dia, por alguma razão seus olhos se tornarem incapazes de ver, de entender a pureza do amor, é sinal que essa estupidez humana lhe descolou as retinas, passando a permitir-lhe que só veja um mundo negro, sem vida, sem sabor.
Tenha em mente que um dia, amanhã ou daqui a cem anos, você voltará a enxergar e o ar que respiras te fará sorrir, enquanto o orvalho da manhã te fará sentir o mais doce dos sabores. Nesse momento acordarás de um pesadelo e cairá em um lindo sonho que não foi feito para ser sonhado de forma egoísta, sozinho. Não, esse sonho é do tipo que só acontece quando se tem o prazer de acordar pela manhã e ver ao seu lado a fonte de alegrias que tanto procuraste. Somente assim conhecerás o amor, saberás quanta falta ele lhe fez e sentirás o quanto a vida se torna singela quando esse sentimento enche sua alma.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Hipérbole
Estou morrendo de sede,
Estou morrendo de frio,
Morrendo de sono.
Estou morrendo de rir,
Estou morrendo de cansaço,
Estou morrendo de calor,
Morrendo de dor.
Estou morrendo de medo,
Estou morrendo de tédio,
Estou morrendo de ódio,
Morrendo de tristeza.
Estou morrendo por ver,
Estou morrendo por ouvir,
Estou morrendo por cheirar,
Morrendo por provar.
Se morrerei com medo...
Se morrerei chorando...
Se morrerei nervoso...
Morrerei triste.
Então morrerei comendo?
Então morrerei bebendo?
Então morrerei tremendo?
Morrerei dormindo?
Estou morrendo...
Se morrerei...
Então morrerei...
Morri!