sábado, 15 de março de 2008

Pretérito Mais Que Imperfeito

E o tempo correu, correu e correu...
E o tempo voou e voou...
O tempo simplesmente passou.
Nunca esqueci,
Nem você esqueceu.
Mas te fiz dormir dentro de mim.
E de repente você acordou.
De alguma forma sempre me acompanhou.
Voltaram emoções, lembranças
Medos, inseguranças.
Porque um dia te deixei...
E um dia me deixou também.
Fiquei em você.
Grudei em você.
Impregnei no seu corpo,
Na sua mente, alma e coração.
Não me esquece.
Não pode esquecer.
Não consegue esquecer.
Me quer e não sabe se me terá.
E não sei se ainda quero que me tenha.
Só o futuro sabe o que nos espera...
Se algo nos espera...
Só quero que saiba que de alguma forma,
Você ainda está em mim.

sábado, 1 de março de 2008

O Que Você Disse

Você se engana se pensa que eu esqueço
O que para você é pouco, eu sei que não mereço
Fale por si só
Nunca fale por outros
Pode reduzi-los a pó
E se não acha o que digo justo
Tenha certeza que muito mais injusto
É que use o nome de um qualquer
Pra dizer as coisas que você quer
Fale por você
Aquilo que quiser
E quando não houver mais o que falar
Talvez seja hora de se calar

Aquela vez...

Sem assunto
Sem palavras
Sem gestos.
Apenas os cinco sentidos se aguçando à espera
Do toque
Do olhar
Do beijo
O beijo...
Desviam-se os olhares
E nada acontece.
Nada aconteceu.
Nada acontecerá.
Mas ela acredita no reencontro
Acredita que possam reconhecer um no outro
As marcas da juventude,
Rever defeitos e virtudes,
Ter passado sem futuro,
Ter tudo e não ter nada.
E ela pensa:
Ela tem ele
Ele tem ela
E ela descobre
Foi bom que nada aconteceu
Melhor que nada venha a acontecer
Melhor que nada aconteça

Desejos

Desejei um gosto
Desejei um cheiro, um olhar
Desejei uma cena
Desejei um sorriso, uma canção
Desejei um corpo
Desejei um toque, o sexo
Desejei...
E como desejei!
Mas apenas desejei
E nem só de desejos se faz uma vida
Nem só de desejos supri-se necessidades
Ou matam-se vontades
Eu desejo...
E como desejo!
Mas não serão os desejos
Que me trarão felicidade

Eu e a Montanha


Certo dia subi ao topo da montanha mais alta que conheci, caminhei até a beirada, olhei para baixo para ver o que poderia haver em um lugar em que até esse dia, não tive coragem de ver. De lá era possível ver uma praia de água cristalina e areia muito clara. Parecia o melhor lugar para estar, mas não havia como chegar lá, se não fosse pulando da montanha. Agachei-me para poder ver o que haveria na queda e isso foi mais assustador ainda. Galhos e pedras pontiagudas aguardavam por carne a ser dilacerada, enquanto a areia banharia-se em sangue fresco.
A areia continuava branca a chamar-me para um passeio no calor e conforto de uma praia tão bela onde o vento embalava palmeiras muito verdes, e as ondas dançavam num ritmo doce, tranqüilo, porém frenético. Nada poderia ser melhor que estar lá naquele momento, mas não podia simplesmente esquecer o medo de que tudo fosse ilusão e a queda fosse ainda mais dolorosa do que parecia ser. Não sabia o que fazer.
Levantei. Olhei para trás. Para a montanha na qual escolhi subir e tudo que pude ver foram as pedras recheando o chão a minha frente. Ao fundo apenas alguns velhos arbustos que secaram com o passar do tempo e com a falta de vida que haviam sugado durante tanto tempo das pedras. Ali, há muito o vento não batia, nem mesmo uma brisa, e a água que poderia ser abundante estava acabando deixando apenas uns restos de água negra acumulada em uma fenda de pedra.
Vi que meus pés descalços, totalmente desprovidos de proteção começarem a sangrar. Feridas se abriam devido ao contato com as pedras. Sentia dor, muita dor, mas o caminho por onde vim já estava fechado e agora eu só podia ficar ou saltar. Sentia tanto medo, que cheguei a pensar que aquela dor que estava sentindo seria suportável ao menos por algum tempo, mas então abri minhas mãos e elas também se feriam e sangravam, assim como todo o resto do meu corpo. As feridas aumentavam, infeccionavam, assim como a dor intensa e triste que sentia. Mas apesar de tudo eu ainda hesitava em ir até a praia.
Não entendo como pude ser tão covarde por tanto tempo. Fui corajosa em suportar o sofrimento, mas não aceitava a idéia de me arriscar a sofrer. Quem sabe eu nem sentisse nada ou morresse rápido, antes que pudesse chegar à praia. Mas se nada disso acontecesse e ao invés disso eu ficasse deitada agonizante por anos, até que a morte tivesse piedade e uma onda me levasse arrastada para o fundo do oceano? Como decidir quando se tem tantas maneiras dolorosas de se imaginar. A essa hora o sol já estava alto, meu rosto queimava em bolhas quentes e lágrimas tomavam meus olhos, pois eu continuava a sangrar mais e mais a cada segundo de indecisão. Os arbustos secos, apodreceram fétidos e derreteram-se em frente a meus olhos. Provavelmente era o mesmo que aconteceria comigo se continuasse a me alimentar da escuridão cruel que tomava o local.
Não pude mais suportar aquilo. Conclui que nada podia ser pior que estar ali e quem sabe a areia morna da praia pudesse fechar as lepras que me tomaram após tanto tempo. Ou mesmo que a areia fosse fervente e o mar gelado eu ainda poderia descansar à sombra de uma das belas palmeiras que continuavam a se balançar com a brisa. Eu tinha uma chance. Precisava vencer o medo, me jogar de cabeça no que me parecesse uma chance de estar melhor e... Pulei!
Fechei os olhos, aguardando o impacto contra o solo, ou os cortes já existentes aumentando devido ao choque contra a pedreira ou os galhos secos que saiam da montanha. Para minha surpresa não senti impacto ou choque algum. Resolvi abrir os olhos e pude então perceber que não caía, mas flutuava lenta e tranqüilamente. Podia controlar o vôo e me levei calmamente até a areia onde pousei os pés com calma. Comecei a andar, sentindo as ondas e o alívio, ambos tão esperados pelo meu corpo cansado da doença que antes me tomava. Me sentia leve, tão leve como nunca senti. Percebi que todos os machucados que antes me torturavam sem trégua, sumiam sem deixar sequer marca assim como a grande montanha na qual subi e tive tanto medo de descer. Por mais que ela me parecesse segura antes, naquele momento eu soube que não importava os riscos eu precisava fazer o que me fizesse melhor, seguro ou não. Aliás, foi assim que descobri que a única e verdadeira segurança não estava em um paredão de pedras, nem mesmo na linda praia que me aconchegava naquele momento, mas dentro de mim, nas minhas certezas e nas dúvidas também, porque esse é o lugar em que posso procurar mais de mim mesma, descobrir e encontrar o que me faz bem de verdade.

A Cidade Onde Tudo É Grande

A viagem ainda é a mesma.
Os prédios continuam no mesmo lugar.
E as pessoas sempre tão apressadas, sim elas estão lá.
Mas ao ver tudo tão igual,
Percebo que falta o que de mais importante
Já houve naquele lugar.
E mesmo sabendo que não encontrarei o que procuro,
Busco em cada rua, cada rosto,
Busco por você.
Mas como eu disse...
A viagem ainda é a mesma
E o retorno continua frustrado.
Pela janela passam carros, casas, pontes, rios...
E como passam depressa!
Só não correm meus sonhos e recordações.
Do tempo em que a cidade onde tudo é grande,
Tornou-se pequena para nós.
O tempo que não devia ter passado.
Quando a viagem era a mesma,
Mas quando a cidade onde tudo é cinza
Não poderia ter mais cor.

Dores

Com as feridas que vêm e que vão, a gente aprende
Com a raiva que surge as vezes, a gente explode
E as facadas que outros nos dão, a gente sente
Com os cortes que abrem e não fecham a gente sofre.
Com as mágoas que causam a nós, a gente chora
Com as lágrimas que fogem dos olhos, a gente se entrega
E pras nuvens escuras no céu, a gente implora
Com a chuva que cai sobre nós, a gente sossega.
Com as luzes que vêm e que vão, a gente escurece
Com o Sol e a Lua a brilhar, a gente enxerga
E com os trovões dos dias negros, a gente estremece
Com as dores que insistem em voltar, a gente confessa.
Com três mãos as dores, os cortes vão se curar
Com carinhos, ternura e amor, as lágrimas se secam
Com alguém aqui do meu lado, eu vou me salvar.

A Busca

Entre os ursos de pelúcia e o meu mundo solitário
Entre os dias que eram longos e os carinhos que eram poucos
Entre os olhares quer eram falsos, os amantes e os amassos
Entre paixões tão repentinas, carnaval sem serpentina
Entre o futuro e o passado, um presente conquistado
Entre os sorrisos e as dores, os caminhos e os pudores
Eu só queria encontrar um pouco de amor
Errei demais em busca de um amor
Quem é que ama um ser tão sofredor
Minha esperança já está por um triz
Eu só queria ser um pouco mais feliz
Entre o homem e o menino, a escolha e o destino
Entre o certo e o errado, o carinho e o pecado
Entre toda essa procura, os acertos e a loucura
Eu encontrei você

Três de Junho

Eu te tocava
Como quem não espera nada de uma noite incomum
Eu só sonhava
Com minha boca, sua boca em um beijo tão comum
Eu te olhava
Como quem quer uma resposta em palavras tão comuns
Eu esperava
Por um momento todo certo adequado e incomum
Estava escuro
A televisão falava
Um olhar puro
Mais e mais eu desejava
Esqueci tudo
Então senti que te beijava
E foi assim
O três de junho que não teve fim
Naquela noite de alegria
Eu tinha tudo que eu queria

Palavras

Me perdi nas palavras
Falei o que não devia
Respirei fundo, suspirei, chorei e contei!
Agora sofro...
Arrependo-me por ter regurgitado palavras proibidas!
Porém esse arrependimento não me leva a lugar algum...
Resta-me contornar situações,
Dizer apenas o que se quer ouvir...
A quinta da canção triste ainda ecoa na mente do ser incompreendido!
As palavras duras que me foram arremessadas na face,
Ainda são capazes de me nublar os olhos,
São capazes de sangrar meus ouvidos,
Ferir minha alma pecadora!
Mas eu aprendi com o tempo:
Eu só ouço a mudez do silêncio,
Só sigo a insensatez do que diz meu coração.

Identidade

Nunca fui herói de gibi
Mas tinha uma identidade
Que ninguém podia descobrir.
Se eu sou eu,
Você é você,
Não tenho mais porque me esconder.
Pulei o muro,
Vou ver o mundo,
Agora vou ser quem eu sou
Vou falar besteira,
Vou fazer zoeira
Não me interessa quem querem que eu seja.
Ah! Fuga fugaz
Que não me deixa em paz.
Ah! Não pode ser assim
Não vou mais fugir de mim.